terça-feira, 12 de agosto de 2008


Trechinho da entrevista que o doidão do Chris Simunek fez com a lenda do reggae Bunny Wailer...direto da jamaica...

- Temos ouvido falar muito de Nyabinghi – eu disse. - Mas ninguém nos diz exatamente o que é...
- O Nyabinghi é a ordem – ele respondeu. – O trumpete soa de Nyabinghi, porque Nyabinghi é o primeiro. Então, o reggae vem de Nyabinghi e une as nações. É o que fez o reggae e vai sempre ser o reggae, vem pra todas as nações. Une todo o mundo e, embora a mensagem seja dura, não machuca.
Bunny sorriu. Era obvio que, para ele, a explicação era suficiente. Eu decidi mudar de assunto pra maconha de novo.
- Por qure você acha que as pessoas têm medo de legalizar a maconha?
- São as razões – ele respondeu. – Veja você, a maior parte das coisas tem que ter razões. Eles não tinham razão em primeiro lugar para castigar as pessoas por isso, então fica difícil encontrar uma razão pra legalizar. Bill Clinton diz que não tragou, mas quem estava lá pra dizer que não? Eu acho que esses líderes passam tempo demais sentados no escritório. Eles não vão pro meio do povo comer da mesma panela, fumar do mesmo cachimbo, sentar na esquina, conversar, pensar, dormir. Você pode dormir em cima de um banco e, quando acordar, as pessoas ainda estarão lá. Eles precisam disso. Eles têm medo das mesmas pessoas que o puseram lá. Humpty Dumpty sentado no muro. Virou um ovo, ficou fora tempo demais, he he he. Por que o presidente não pode andar no meio dos americanos, se a América é abençoada por Deus? Ele precisa dum baseado, dum cálice. Esses caras se preocupam demais, se preocupam mais do que rezam, tem alguma coisa errada. Você precisa ter cuidado com o monstro que suga a alma do homem, que se alimenta da alma da inocência e diz que tem o poder. Se você tem um nenezinho, não pode se alimentar dos seus braços, das suas pernas ou do que quer que seja, antes que ele consiga se sustentar nos próprios pés... Você só pode receber força duma criança se lhe der força, pra que ela fique forte e te defenda usando a força que você lhe deu. Mas se você pensa que vai se alimentar da sua fraqueza, é melhor rezar pra que ela nunca fique forte.
Mais alguns manos chegaram, e Bunny entrou na casa e reapareceu na varanda com um saco de supermercado cheio de erva. Pegou cinco camarões diferentes e deu pra nós examinarmos.
- Você cultivou isso? – perguntei, trazendo um dos camarões até o nariz pra examinar melhor.
- Quem cultivou foi o sol, o vento e a terra – ele sorriu.
Seu produto tinha cheiro almiscado, de hortelã, característico das mais finas espécies da jamaica. Eu conclui que, se algum dia ele perdesse o trampo de patriarca do reggae, podia continuar a viver decentemente como plantador de maconha.

Retirado do livro Paraíso da Fumaça - Viagens de um jornalista da High Times. ed. Conrad

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