sexta-feira, 22 de agosto de 2008

menino preto 2


II

Nas primeiras horas do dia, o menino preto andava por uma estrada... o clima seco e a poeira deixavam sua garganta seca... atrás dele um ser que quase lembrava o que já foi... agora era um monte de ossos que se equilibravam e um par de tristes olhos... o menino preto sentia os primeiros raios de sol esquentarem seu rosto... a manhã que nascia trazia um sentimento de recomeço e esperança... ao olhar para os olhos da vaquinha enxergou algo além da tristeza, pôde sentir carinho, cumplicidade, afeto e saudade, gratidão, doação e amor... e o menino preto sorriu mesmo sabendo o que tinha ser feito...
Ele sabia o que tinha que ser feito... e estava fazendo... estava acontecendo... ainda era tempo de voltar atrás, mas era uma questão de sobrevivência, ou de libertação...
Naquela estrada vazia, o menino preto começou a cruzar com toda sorte de pessoas, o sol se apresentava forte e o dia que nascia se mostrava quente e seco... essas pessoas, assim como o menino preto, estavam querendo fazer negócios. Alguns queriam vender, outros queriam comprar, alguns queriam dar, e outros não estavam querendo nada, mas se sentiam tão sós e estavam ali, naquela estrada, procurando encontrar alguém... aquilo era um mercado, uma feira...As pessoas já faziam negócios, mas ninguém parecia se interessar pela vaquinha... o grande numero de pessoas que circulava na estrada fazia com que aquela poeira vermelha subisse dando um aspecto de sonho e o menino preto estava achando aquilo tão animado e belo... na beira da estrada ele sentou, e a vaquinha ficou do lado dele como se compartilhassem aquele momento. Se distraia vendo essas pessoas passando. As pessoas são realmente interessantes. Esses seriam os últimos momentos do menino preto com sua vaca que lha acompanhou pela maior parte de sua vida. O menino estava distraído, e se assustou com a voz estridente de uma velha feia de orelhas estranhamente enormes, que o chamava...

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