terça-feira, 12 de agosto de 2008

Dos Vagabundos


Sem sombras de dúvida, o mundo ainda é suportável, graças aos vagabundos e graças aos rebeldes, aos nômades e a esses inimigos do trabalho e do pudor que aqui, sob o sol indiscritível do Caribe, fundem-se às ondas do mar e até, às “divindades” desse povo inocente! Sim, devemos a liberdade do mundo a esses homens, porque as ditaduras esmorecem misteriosamente diante deles; porque famílias mais tirânicas são desmascaradas por seus pensamento; porque o Estado não os pode “possuir”, nem como soldados, nem como escravos (o que vem a ser o mesmo) e as religiões não os podem induzir ao delírio messiânico.
Ah, como brota sabedoria dos passos desses vagabundos! Desses eternos viajeiros, que antes de se pensar em dialética, já haviam descoberto o trágico destino da civilização... “Suspeita-se dos ladinos, dos malandros e dos vagabundos, entretanto, não saberíamos imputar-lhes nenhuma das grandes convulsões da história. Não acreditando em nada, não invadem vossos corações nem vossos pensamentos mais íntimos; vos abandonam à vossa frescura, ao vosso desespero e à vossa inutilidade. A humanidade lhes deve os poucos momentos de prosperidade que conheceu e são eles que salvam os povos que fanáticos torturam e que os idealistas arruínam. Sem doutrinas, não possuem mais que caprichos e interesses, vícios comodistas, mil vezes mais suportáveis que o despotismo dos princípios, porque todos os males da vida vêm de uma ‘concepção da vida’. Um homem político verdadeiro, deveria aprofundar-se nos sofismas antigod, tomar lições de canto, e de corrupçãp...”

Cioran

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