segunda-feira, 30 de junho de 2008

Processo Acatado...



Salve a todos.
Aos parceiros e parceiras que venho juntando nessa caminhada.
ontem foi o dia do meu depoimento na 77 delegacia pela acusação no artigo 286 (apologia ao crime) pelo texto :"pensamentos de um correria" feito para a folha de S.Paulo. texto esse que expõe o pensamento de um assaltante.
O meu argumento no depoimento foi só um, que também eram culpados todos os escritores de ficção que li até hoje, como por exemplo Machado de Assis, Hesse, Gorki, Graciliano Ramos e etc.
afinal fazer literatura é um crime que todos nós cometemos juntos.
Quando cheguei na delegacia estava lá para minha surpresa o Robson Canto, todo vestido com a 1dasul e pronto para me apoiar. também estava o Rogério que trabalha agora conosco.
A folha de S. Paulo mandou um repórter, Alencar Martins, que me acompanhou no depoimento.
Meu advogado nessa causa, o Dr. Carlos me disse que não daria nada, que talvez o próprio delegado arquivaria o processo, que é o que na maioria das vezes acontece, mas não foi assim.
E realmente o delegado Antônio foi até o escrivão e deu sua opinião que achava que eu havia escrito somente uma ficção, um romance, mas não cabia mais a ele o arquivamento do processo.
Estou escrevendo em detalhes, pois nos meus 32 anos de vida, sempre segui os conselhos de meu pai, um bahiano de 60, que falava pra mim nunca pegar nem um palito de fósforo de ninguém.
Foi muito difícil seguir isso, pode apostar, passei coisas que hoje conto e alguns nem acreditam, chegou um tempo que nem pra ser faxineiro do hotel Meliá eu servi.
Montei a marca 1dasul, fiz centenas de palestras, escrevi meus livros e hoje se durmo 5 horas por dia é muito, cercado pelos compromissos e responsabilidades que isso traz.
bom, voltando ao processo, o ministério público acatou, então agora vai para o juiz, o que isso quer dizer? que tenho a partir de hoje um processo contando no meu prontuário, quem mora em periferia sabe o que isso quer dizer, toda vez que for parado, vou ter que me explicar, e se não convencer o policial, posso ser detido para averiguação, fora o tratamento para quem tem processo constando que é daquele jeito que agente sabe.
Expliquei isso ao escrivão, mas ele disse não poder fazer mais nada, o pedido foi acatado.
Agora cabe a mim, explicar a minha família, que um texto fez eu ganhar uma mancha na minha vida, e explicar também que outro texto (o do Luciano Huck) que disse que esperava a ajuda do Capitão Nascimento, fazendo alusão a justiceiros, sequer foi mencionado.
Pensei muito na minha filinha de 1 ano e dois meses, que estava doente, esperando eu voltar para leva-la ao médico, pensei muito o que vou fala pra ela mais pra frente sobre tudo isso. o caso agora segue, se o juiz também acatar, ai vem a pena, senão, vem o arquivamento e eu vou ter que correr para tentar tirar o processo do meu nome.
No final, pra mim esse caso é o retrato do pais em que vivemos, a elite ganhou outro lindo relógio de presente, e o cara que acha que faz elo povo, um artigo no prontuário.
mas sabe de uma coisa? eu não mudaria uma virgula do que escrevi, porque tenho absoluta certeza do que sou.
Ferréz

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Justiceiro...


mais uma pérola do meu amado amigo Renato Hideki, meu "personal zen master"...

Como toda sexta-feira, emílio, descerás do ônibus, andarás cem, duzentos passos, passos simétricos de robô, e pousarás no bar. Servir-te-ás de cerveja e da tua habitual meditação.

Notarás a falta do índio da mesa da ponta. Dir-te-á o dono do bar, ao lavar uns copos americanos, que há de retornar o índio, que as coisas são assim mesmo. Vai ver arrumou emprego, tomara, para que possa pagar sozinho as contas, para que possa, enfim, ser livre. Nessa sexta, o índio será o assunto do dia no bar.

Em silêncio, queixo nas mãos, tentarás recordar o nome de alguma música ou mulher. Quando faltar a luz, a energia elétrica, chegar-te-á o gordinho, e ele começará:

“Esse índio me devia uma grana, sabia? Eles, os índios, vêm para a cidade sem destino nenhum, sem ter onde deitar nas noites frias de junho. Junto a ninguém conseguem emprego, ninguém os quer trabalhando. É porque são preguiçosos, de sorte que este nosso, o da nossa mesa da ponta, com que dinheiro, eu lhe pergunto, emílio, com que dinheiro você acha que ele pagava a pinga?”

Tu erguerás os ombros e espirrarás. O gordinho vai continuar:

“Eu sabia que ia acontecer. Sabe quando ele volta? Nunca. É por isso que eles vêem à cidade: para dar algum calote e ir embora. Acho bem-feito que tenha morrido... na hipótese de que tenha morrido.”

Levantar-te-ás para ir ao banheiro. Não se pode generalizar; fazer de um exemplo a regra para todos. Quererás dizer isso ao gordinho quando retornares à mesa. Te lembrarás da tua avó.

Quando tiveres regressado do banheiro, o gordinho não estará mais lá. Terás de esperar mais um tempo a ver se ele não volta, remoendo, matutando que tua avó, índia e curandeira, fora uma pessoa correta.

Farto de esperar, emílio, pagarás a tua conta, enquanto estarão te martelando na cabeça as palavras “bem-feito que tenha morrido”. Saltarão as veias de teu pescoço e das tuas têmporas, latejando, pulsando um senso de justiça que tu não imaginas ter. Jurarás para ti mesmo vingança pelo índio da mesa da ponta. Gordinho assassino.

Na andança para a tua casa, encontrarás o gordinho em discussão com o índio que tu já consideravas morto. Respiração corrida, meterás a mão na cara do gordinho, e dirás a verdade, “as contas do índio as pago eu”. Sacarás o revólver que sempre escondes na calça e entregá-lo-ás ao índio, como se este já soubesse o que fazer. Daí darás as costas e começarás o passo lento daquele que compriu a missão. Então, emílio, escutarás o gordinho desesperando: “deve-se pagar tão caro pelo simples desejar vermos outrem morto?”, e tu dirás “sim”. Virar-te-ás e verás o gordinho às gargalhadas, grotesco, e verás, olhos nos olhos, a feição maligna no rosto daquele índio que tu imaginas bom, o rosto dele encarando o teu, fazendo-te mira. Só aí terás a tua justiça feita.

O Lobo da Estepe

Era uma vez um certo Harry, chamado o Lobo da Estepe. Andava sobre duas pernas, usava roupas e era um homem, mas não obstante era também um lobo das estepes. Havia aprendido uma boa parte de tudo quanto as pessoas de bom entendimento podem aprender, e era bastante ponderado. O que não havia aprendido, entretanto, era o seguinte: estar contente consigo e com sua própria vida. Eraincapaz disso, daí ser um homem descontente. Isso provinha, decerto, do fato de que, no fundo de seu coração, sabia sempre (ou julgava saber) que não era realmente um homem e sim um lobo das estepes. As pessoas argutas poderão discutir a propósito de ser ele realmente um lobo, de ter sido transformado, talvez antes seu nascimento, de lobo em ser humano, ou de ter nascido homem, porém dotado de alma de lobo ou por ela dominado ou, finalmente, indagar se essa crença de que ele era um lobo não passava de um produto de sua imaginação ou de um estado patológico. É admissível, por exemplo, que, em sua infância, fosse rebelde, desobediente e anárquico, o que teria levado seus educadores a tentar combater a fera que havia nele, dando ensejo assim a que se formasse em sua imaginação a ideia e crença de que era, realmente, um animal selvagem, coberto apenas com um ténue verniz de civilização. A esse propósito poder-se-iam tecer longas considerações e até mesmo escrever, livros; mas isso de nada valeria ao Lobo da Estepe, pois para ele era indiferente saber se o lobo se havia introduzido nele por encantamento, à força de pancada ou se era apenas uma fantasia de seu espírito. O que os outros pudessem pensar a este respeito ou até mesmo o que ele próprio pudesse pensar, em nada o afetaria, nem conseguiria afetar o lobo que morava em seu interior.
herman hesse


quinta-feira, 19 de junho de 2008

Bazzo pras Massas

digitais do malcon X quando foi enquadrado... sem comentários...
O Anarquismo Espontâneo nos Histéricos
Trecho da Palestra feita no simpósio
I JORNADAS LIBERTÁRIAS ­ UnB
02 de setembro de 2003
Pensem na saúde mental. É rotina nos Estados de merda promover silenciosamente a desagregação mental das massas. No mês passado foi desativado em Planaltina (DF), um sanatório que funcionava ainda nos moldes daqueles que horrorizaram Pinel no século XVIII. As periferias, por mais que os professores e os políticos não saibam ou não mencionem, estão abarrotadas de doentes mentais. Homens e mulheres de todas as idades enfiados em seus casebres, com seus familiares também doentes e miseráveis, vivendo como zumbis, à margem do saber, da atenção e do consumo neurótico do hospício urbano...Cinco, seis, dez, vinte gerações de pirados... e seria ingenuidade ou mau caratismo acreditar que a engrenagem estatal não tem nada a ver com isso... e que a explicação para o frenessi popular deva ser buscada apenas lá no triângulo edipiano ou apenas lá nas falhas dos neurotransmissores... Com nosso equilíbrio e nossa saúde no limite, como não enlouquecer diante de tanta manipulação, de tanta ambiguidade e de tantos estelionatos? Mas é necessário resistir, porque enlouquecer é o fim. O louco é simplesmente um louco. Não interessa mais a Estado nenhum e a ninguém.. É reduzido a um bosta, que se antes da reforma manicomiária, ficava confinado, agora, é empurrado de volta para sua família caótica e daí para a sarjeta... É verdade que quando têm dinheiro, é resgatado temporariamente pelo comércio dos medicamentos de tarja preta, mas se for um fodido qualquer, esperneia por algum tempo nos fundos da casa, num manicômio provisório e depois recolhe-se aos seus delírios, vivendo de roer unhas, de remordimentos e de bebericar num e noutro copo de cachaça, até que um ônibus lhe esmague acidentalmente os miolos ou que um outro pirado lhe dê uma rajada pelas costas. Nestes verdadeiros hospícios que são as nações, parece não haver para os grandes rebanhos nenhuma outra saída. As comunidades alternativas silenciaram e faliram e a histeria de PAZ e AMOR dos anos 60, ficou na história como um luxo efêmero. Seus atores enlouqueceram e morreram fumando ópio e hachiche pelas montanhosas estradas de Machu-Pichu, de Katmandu e da India...

bazzo

Buk


"você pode não acreditar nisto
mas há as pessoas
que passam pela vida
com muito pouca fricção de angústia.

eles se vestem bem, dormem bem.
eles estão contentes com
a família deles.
com a vida.

eles são imperturbáveis
e freqüentemente se sentem
muito bem.
e quando eles morrem
é uma morte fácil,
normalmente durante o sono.

você pode não acreditar nisto
mas tais pessoas existem.
mas eu não sou nenhum deles.

oh não,eu não sou nenhum deles,
eu não estou nem mesmo próximo
para ser um deles.

mas eles estão lá...
e eu estou aqui."
Charles Bukowski

Hermogenes


Se, ao final desta existência, alguma ansiedade me restar e conseguir me perturbar, se eu me debater aflito no conflito e na discórdia. Se ainda ocultar verdades para ocultar-me, para ofuscar-me com fantasias por mim criadas. Se restar abatimento e revolta pelo que não consegui possuir, fazer, dizer e mesmo ser. Se eu retiver um pouco mais do pouco que é necessário e persistir indiferente ao grande pranto do mundo.
Se algum ressentimento, algum ferimento impedir-me do imenso alívio que é o irrestritamente perdoar, e, mais ainda, se ainda não souber sinceramente orar por quem me agrediu e injustiçou. Se continuar a mediocremente denunciar o cisco no olho do outro sem conseguir vencer a treva e a trave em meu próprio.
Se seguir protestando, reclamando, contestando, exigindo que o mundo mude sem qualquer esforço para mudar eu mesmo. Se, indigente da incondicional alegria interior, em queixas, ais e lamúrias, persistir e buscar consolo, conforto, simpatia para a minha ainda imperiosa angústia. Se, ainda incapaz para a beatitude das almas santas, precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende. Se insistir ainda que o mundo silencie para que possa embeber-me de silêncio, sem saber realizá-lo em mim.
Se minha fortaleza e segurança são ainda construídas com os materiais grosseiros e frágeis que o mundo empresta e eu neles ainda acredito. Se, imprudente e cegamente, continuar desejando adquirir, multiplicar e reter valores, coisas, pessoas, posições, ideologias na ânsia de ser feliz. Se, ainda presa do grande embuste, insistir e persistir iludido com a importância que me dou.
Se, ao fim de meus dias, continuar sem escutar, sem entender, sem atender, sem realizar o Cristo, que dentro de mim, Eu Sou, terei me perdido na multidão abortada dos perdulários dos divinos talentos. Os talentos que a Vida a todos confia. E serei um fraco a mais, um traidor da própria vida, da Vida que investe em mim, que de mim espera e que se vê frustrada diante de meu fim.
Se tudo isto acontecer terei parasitado a Vida e inutilmente ocupado o tempo e o espaço de Deus. Terei meramente sido vencido pelo fim, sem ter atingido a Meta.

-Professor Hermógenes

quarta-feira, 18 de junho de 2008

The Eight Verses on the Training of the Mind

alex gray
Sempre que me relacionar com alguém, que eu me considere a criatura mais ínfima
de todas e que encare o outro como supremo do fundo do meu coração!...

Quando eu vir seres de natureza perversa, oprimidos por tormentos e pecados
violentos, que eu considere de alto valor essas criaturas raras como se tivesse
encontrado um precioso tesouro!...

Quando os outros, por inveja, me tratarem mal com imprecações, calúnias e atitudes semelhantes que eu sofra a derrota e ofereça a vitória aos outros ....

Quando aquele, a quem beneficiei com grande esperança, me ferir profundamente,
que eu possa encará-lo como meu supremo Guru!

Em suma, que eu possa, direta ou indiretamente, oferecer benefícios e felicidade a todos os seres; que eu em segredo possa assumir nos meus ombros a dor e o sofrimento de todos os seres ....

terça-feira, 17 de junho de 2008

Luana

E era um amor tão grande que se tornou uma seita, uma religião... E Luana tinha dado tantos filhos ao mundo, que em determinado momento todos os filhos eram de Luana... E assim surgiu Luana... nada disso faz muito sentido, porque onde tudo isso aconteceu as coisas não costumavam fazer sentido... mas acredite, as coisas funcionavam impressionantemente bem... quase sempre...E quando tudo acabar vamos estar vc e eu, daçando, provavelmente... era um tipo de amor, uma presença significativa que não vai aparecer no filme da sua vida... ela só pode estar dando mole para essa pessoa, rebolando desse jeito, só pode tá dando mole... não, são minhas frustrações projetadas no mundo que me circunda... mas rebolando desse jeito... mas que jeito é esse?!? Hoje eu descobri que te amo... porque vc tem uma história comigo... foram muitos mal entendidos tão típicos de quem tenta entender tudo... No nosso caso as luzes se acendem... a festa acabou.... o sol nasce intenso... naquele horizonte sem fim... dourado, laranja, verde, azul... linda visão, emocionante, talvez seja o cansaço... mas a festa acabou, mas vc não quer ir pra casa, então nada do que vc conhece faz sentido... o mundo bizzarro... agora o charles virou carlos e a rosa já teria sido rose... que é apenas um nome de mulher... bizzarro abre o olho e só vê vc... vc não bizzaro... vc outro... vc lindo? Vc malvado? Vc horror? Se isso não é amor, que porra é essa? Ainda não foi dito que toda essa história se passou em um lugar que fazia muito calor... as pessoas costumavam ter a pele curada pelo sol, e vestiam roupas leves e sandalinhas... Porém tinha uma época do ano que era bom os mais velhos se agasalharem bem à noite... é importante lembrar que a origem disso tudo ficou pra trás, quando vc foi arrancado da sua terra e teve sua alma escravizada, violentada, quase assassinada.... e é exatamente por isso que lembramos em nome de quem já foi esquecido... e não merecia... as coisas faziam mais sentido lá... mas o tempo não volta... e quem se fudeu se fudeu e ta se fudendo até hoje sem perspectivas de parar de se fuder... e talvez seja o que nos torne iguais... o descompromisso com o espelho... uma falsa falta de vaidade... e são tão lindos... especialmente quando dançam... e acredite vcs ainda vão dançar juntos... nem que seja sobre o meu cadáver... eu faço questão...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Mike Alred


Mike Allred é daqueles artistas que tem estilo único... Poderia dizer que ele é perturbador, pois usa um traço limpo, clássico e com cores vivas em histórias que tratam de questionamentos , problemas e angústias da condição humana em ambientes fantásticos... Isso, por si só, causa confusão e estranheza no leitor, e é exatamente isso que torna sua obra impar e instigadora...
No começo dos anos 90, Mike Allred desenhou uma edição de Sandman, a obra prima de Neil Gaiman, uma história chamada O Garoto de Ouro, em que o Sr. Gaiman, resgatava um personagem obscuro chamado Prez, o presidente adolescente dos Estados Unidos...na história vimos um pouco do que aconteceria com um jovem que tentara mudar o mundo de verdade e quais as consequências disso e de forças sinistras por trás de tudo isso...Na época aquilo era demais pra mim...
Pouco tempo depois conheci Madman, trabalho autoral de Mike Allred, publicado pela Editora Dark Horse, que tinha proposta de bancar trabalhos de artistas que se destacavam no cenário independente, dando-lhes liberdade criativa e direitos de propriedade pelas suas obras... Madman se tornou uma série de sucesso, e todas as qualidades de Allred como desenhista e escritor se tornaram evidentes... difícil de definir essa história, onde um protagonista chamado Frankentein, sem memória, tentava descobrir sua identidade, tão humano, enfrentando aventuras típicas de ficções cientificas... coisa fina...
No começo dos anos 2000, com o sucesso do filme do X-Men, a editora que publica os gibis achou que era tempo de dar uma revigorada nos gibis... alcançar novos publicos e ganhar mais dinheiro é claro... Para o título principal e carro chefe da Editora, eles chamaram o talentoso escritor escocês Grant Morrison, e contratou Mike Allred para desenhar ao lado do veterano Peter Milligan, uma série menor chamada X-Statix... Esses artistas aumentaram significativamente o nível dos quadrinhos mainstrean, e esse trabalho confirmou o talento de Mike Allred...
Sempre gostei de Mike Allred por essa característica de seu trabalho de ser fora do comum... essa dicotomia de uma arte quase clássica, em roteiros tão humanos em cenários fantásticos... então em 2007, a Editora Devir, lança o encadernado de Red Rocket 7, A Saga do Rock... Fica Explicito na série todo seu talento, não só como desenhista, mas como contador de histórias... e a saga do sub titulo da história não é a toa... Mike allred, coloca seu personagem principal, um clone de um alienígena que se torna astro do rock, inserido na gênese do gênero musical mais popular de todos os tempos... uma história muito bem contada, com personagens profundos e uma narrativa incrível...Começando na década de 50 seguindo até os anos 90, uma aula básica sobre a história do rock.. e um final lindo... metafísico... A saga do herói é a saga do rock... uma história em que o autor deixa claro seu amor pela música, fazendo uma grande homenagem à quase todos que contribuiram para esse fenômeno chamado rockn´roll... falar que é Forrest Gump + Rock + Ficção Cientifica é pouco... é uma coisa única nos quadrinhos.. é a união de mídias distintas e poderosas e o resultado disso é a salvação do universo...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

diego


"Algún dia, tu hijo y el hijo de tu hijo preguntarán por El."

Maradona

terça-feira, 3 de junho de 2008

hilda linda


"Eu ouvi mami dizer que esse verão bem que a gente podia ir pra praia, mas eu fico triste porque não vamos ter as pessoas pra eu chupar como sorvete e me lamber como gato se lambe. Por que será que ninguém descobriu pra todo mundo ser lambido e todo mundo ia ficar com dinheiro pra comprar tudo o que eu vejo, e todos também iam comprar tudo, porque todo mundo só pensa em comprar tudo. Os meus amiguinhos lá da escola falam sempre dos papi e das mami deles que foram fazer compras, e eu então acho que eles são lambidos todo dia. É mais gostoso ser lambido que lamber, aquele dia que eu lambi o piupiu de chocolate do homem foi gostoso mas acho que é porque tinha chocolate. Sem chocolate eu ainda não lambi ele."

hilda hilst

segunda-feira, 2 de junho de 2008

é nois...



"Só que as putas são fudidas no corpo, enquanto eu sou fodido na alma. É em mim , no meu ser, que eles esfregam seus paus.
O medo é a conversão da fúria que procuro esconder. Uma fúria medonha e disforme. Se eu ousasse libertar essa ira, então voces saberiam o que de fato é ação.
Mas eu, piedoso, os protejo de mim.
Eu grito pra dentro.
Querido diário, eu gero tudo que penso.
Querido diário me proteja de mim."

Mutarelli, Jesus Kid.

beleza rara


O QUE ACONTECEU COM SEU ROSTO? ELE ESTÁ DIFERENTE? ESTÁ! FEIO? NÃO! BONITO? DIFERENTE! PODE CRER! O QUE ACONTECEU COM SEU ROSTO? É QUE EU QUEBREI TODOS OS ESPELHOS LÁ DE CASA. TODOS? TODOS! ATÉ OS DO CARRO? DEIXEI OS RETROVISORES. E AGORA? AGORA MEU ROSTO ESTÁ DIFERENTE. FEIO? NÃO SEI. BONITO? DIFERENTE.

...


"Um dia vou dizer a meu cão: anda, vai, te deixo em liberdade. Mas sinto uma tristeza imensa só em pensar que ele poderá baixar a cabeça colocar o rabo entre as pernas, olhar-me docemente com seus olhinhos de ouro e voltar a deitar a meus pés."

Maria Tereza Léon

Evangelho de Machado


100 anos da morte de Machado de Assis... um texto obscuríssimo do Machadão...

NEM SEMPRE respondo por papéis velhos; mas aqui está um que parece autêntico; e, se o não é, vale pelo texto, que é substancial. É um pedaço do evangelho do Diabo, justamente um sermão da montanha, à maneira de S. Mateus. Não se apavorem as almas católicas. Já Santo Agostinho dizia que "a igreja do Diabo imita a igreja de Deus". Daí a semelhança entre os dois evangelhos. Lá vai o do Diabo:

1.° E vendo o Díabo a grande multidão de povo, subiu a um monte, por nome Corcovado, e, depois de se ter sentado, vieram a ele os seus discípulos.
2.° E ele, abrindo a boca, ensinou dizendo as palavras seguintes.
3.° Bem-aventurados aqueles que embaçam, porque eles não serão embaçados.
4.° Bem-aventurados os afoutos, porque eles possuirão a terra.
5.° Bem-aventurados os limpos das algibeiras, porque eles andarão mais leves.
6.° Bem-aventurados os que nascem finos, porque eles morrerão grossos.
7.° Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e disserem todo o mal, por meu respeito.
8.° Folgai e exultai, porque o vosso galardão é copioso na terra.
9.° Vós sois o sal do money market. E se o sal perder a força, com que outra cousa se há de salgar?
10.° Vós sois a luz do mundo. Não se põe uma vela acesa debaixo de um chapéu, pois assim se perdem o chapéu e a vela.
11.° Não julgueis que vim destruir as obras imperfeitas, mas refazer as desfeitas.
12.° Não acrediteis em sociedades arrebentadas. Em verdade vos digo que todas se consertam, e se não for com remendo da mesma cor, será com remendo de outra cor.
13.° Ouvistes que foi dito aos homens: Amai-vos uns aos outros. Pois eu digo-vos: Comei-vos uns aos outros, melhor é comer que ser comido, o lombo alheio é muito mais nutritivo que o próprio. 14.° Também foi dito aos homens: Não matareis a vosso irmão, nem a vosso inimigo, para que não sejais castigados. Eu digo-vos que não é preciso matar a vosso irmão para ganhardes o reino da terra; basta arrancar-lhe a última camisa.
15.° Assim, se estiveres fazendo as tuas contas, e te lembrar que teu irmão anda meio desconfiado de ti, interrompe as contas, sai de casa, vai ao encontro de teu irmão na rua, restitui-lhe a confiança, e tira-lhe o que ele ainda levar consigo.
16.° Igualmente ouvistes que foi dito aos homens: Não jurareis falso, mas cumpri ao Senhor os teus juramentos.
17.° Eu, porém, vos digo que não jureis nunca a verdade, porque a verdade nua e crua, além de indecente, é dura de roer; mas jurai sempre e a propósito de tudo, porque os homens foram feitos para crer antes nos que juram falso, do que nos que não juram nada Se disseres que o sol acabou, todos acenderão velas.
18.° Não façais as vossas obras diante de pessoas que possam ir contá-lo à polícia.
19.° Quando, pois, quiserdes tapar um buraco, entendei-vos com algum sujeito hábil, que faça treze de cinco e cinco.
20.° Não queirais guardar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e donde os ladrões os tiram e levam.
21° Mas remetei os vossos tesouros para algum banco de Londres, onde a ferrugem, nem a traça os consomem, nem os ladrões os roubam, e onde ireis vê-los no dia do juízo.
22.° Não vos fieis uns nos outros. Em verdade vos digo, que cada um de vós é capaz de comer o seu vizinho, e boa cara não quer dizer bom negócio.
23.° Vendei gato por lebre, e concessões ordinárias por excelentes, a fim de que a terra se não despovoe das lebres, nem as más concessões pereçam nas vossas mãos.
24.° Não queirais julgar para que não sejais julgados; não examineis os papéis do próximo para que ele não examine os vossos, e não resulte irem os dous para a cadeia, quando é melhor não ir nenhum.
25.° Não tenhais medo às assembléias de acionistas, e afagai-as de preferência às simples comissões, porque as comissões amam a vanglória e as assembléias as boas palavras
26.° As porcentagens são as primeiras flores do capital; cortai-as logo, para que as outras flores brotem mais viçosas e lindas.
27.° Não deis conta das contas passadas, porque passadas são as contas contadas e perpétuas as contas que se não contam.
28.° Deixai falar os acionistas prognósticos; uma vez aliviados, assinam de boa vontade.
29.° Podeis excepcionalmente amar a um homem que vos arranjou um bom negócio; mas não até o ponto de o não deixar com as cartas na mão, se jogardes juntos.
30° Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as observa, será comparado ao homem sábio, que edificou sobre a rocha e resistiu aos ventos; ao contrário do homem sem consideração, que edificou sobre a areia, e fica a ver navios...

Aqui acaba o manuscrito que me foi trazido pelo próprio Diabo, ou alguém por ele; mas eu creio que era o próprio. Alto, magro, barbícula ao queixo, ar de Mefistófeles. Fiz-lhe uma cruz com os dedos e ele sumiu-se. Apesar de tudo, não respondo pelo papel, nem pelas doutrinas, nem pelos erros de cópia.