sábado, 21 de fevereiro de 2009

Carnaval


Chegou o carnaval... todo mundo muito doido... mulherada pelada na televisão... todo mundo achando traveco bonito... gente fazendo coisas impensáveis... ano pasado ganhei um dedo no olho espiritual, a validade de um ano venceu, e já tá fedendo... mas é isso aí... tudo de novo e denovo edenovo...
Comecemos nossos trabalhos... e em data tão especial... onde colocamos nossas fantasias, ou finalmente podemos sair de casa sem a mascara que a sociedade nos exige... anjos e demonios convivem em quase perfeita harmonia e agonia nas ruas desse brasilzão... uma poesia e/ou lição do meu camarada Furmiga... já agradeço a colaboração, para abençoar os foliões... apenas a primeira de outras que virão...

RISO

A Comédia é a conquista, sedutora de uma embriaguês
melancólica.

O Riso se dá no que há de novo e verdadeiro: inédito
ainda não dito, até então indizível.
A Graça é a abertura que se dá, arregaça o silêncio
inominado e lhe insere um sopro percissivo, a
transcendência do espírito pelo signo. Bafo intestinal
musicalizado nas cordas vocais (ou gestos rítmicos, não
antes compassados) inspirado e absorvido pelos outros
(ressonância) rumo à decomposição ígnea dos vermes e
vaporizado às aves.

O Sorriso é um re-riso. Diferente da novidade e
originalidade do que faz cócegas no ânus, é, pois, a
complacência do já-rido. Simpatia da dissonância
inevitável, contratempo posto, contraponto possível.
Suspiro relaxado. Inacumulável. desgraça. Retorno-
imagem do aberto, via veiculável. Boca calada, parada
(dentes néon), desenho preparado, aglutinando-se de
alegria para, brevemente, fazer abrir, extravasar
explosivamente um velho maldito. Forma-se o futuro
Riso, compõe-se uma nova vibração. Engraça-se um peido
coletivo, melodia contagiante. Repetida como ventos aos
trovões, o brilho de seus raios domina e subjuga.
Poder simbólico.

Cada piada deve ser contada somente uma única vez.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Seu trabalho terminou. Você mostrou a eles o rosto do homem do amanhã. Deu a eles um ideal pelo qual almejar, incorporou suas maiores aspirações. Eles vão correr, tropeçar, cair, engatinhar... e praguejar... e finalmente... eles se unirão a você no Sol, Kal-el. Com o tempo, você não estará mais sozinho.

sexta 13


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

tempos modernos


Os tempos são outros, meu irmão... não precisamos nos preocupar em cortar os ts ou pingar os is...

loucura


Seriam as últimas coisas que ele faria antes de enlouquecer. Ele que finalmente ia... enlouquecer. Seus últimos pensamentos, suas últimas atitudes... Tudo ficara claro. Ele sabia que ainda tinha coisas pra fazer. E sabia que não conseguiria fazer tudo. Mas agora que já tinha começado, tudo estava claro, ele nunca tinha visto as coisas daquela maneira. Surpreendentemente tranquilo e sereno. Ele não pensara que seria assim. Ele já podia ouvir vozes. E não conseguiria manter o foco por muito tempo. Vozes que davam ordens, gritavam e xingavam. outras vozes o confortavam, outras eram mantras, cantos gregorianos... e tambores... ia acontecer em breve...
Ele precisava estar minimamente pronto. Devia ser uma questão de dias. Sem dúvida. E aos poucos tudo começou a desaparecer. As coisas falsas derretiam diante de seus olhos, até não sobrar quase nada. E tudo que sobrou era tão belo e tão triste. E todas suas duvidas, que eram a angústia de uma vida, não importavam mais. Quando todas as mascaras caíram só sobrou um vazio. O vazio. Somente um deus seria capaz de preencher tamanho vazio. E o vazio clamava por esse deus... ou por qualquer deus... E era só uma questão de tempo... E cada vez que o vazio clama, a loucura se apresenta... e todas as coisas que ele tinha que fazer também deixaram de importar...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Gravando, Gravando


Você me trata mal, ela dizia, você me diz coisas horríveis, coisas que um homem decente jamais diria a uma mulher. Acusação que ele rejeitava, indignado e irônico: você não sabe o que está dizendo, você vive num mundo de fantasia, ouvindo vozes.
Discussão que se prolongou por anos, até que ela teve uma idéia: provaria ao marido concretamente o que estava afirmando. Para isto, comprou um pequeno gravador, e passou a usá-lo constantemente, escondido sob a blusa. Ele de nada desconfiava. Continuava com seus impropérios. Quando a fita chegou ao fim – duas horas de agressões e desaforos – ela decidiu confrontar o marido com a realidade. À noite, depois do jantar, chamou-o ao quarto:
- Tenho uma coisa para lhe mostrar.
- O que é isto? – Ele, desconfiado, olhando a fita e o gravador.
- Ouça.
Ele ouviu. Por duas longas horas, ouviu. Quando a gravação terminou estava arrasado:
- Você tem razão – disse, a voz embargada, os olhos cheios de lágrimas. – Eu não presto mesmo. Sou tão ruim, tão perverso, que nem de minha maldade me dava conta.
Levantou-se:
- Vou-me embora. Não mereço viver ao seu lado.
Foi mesmo. Sumiu tão completamente, que ela nem sabe de seu paradeiro. Vive só; e a verdade verdadeira é que sente falta dele. Para se consolar, todos os dias ouve a gravação.
O gravador:
- Você é idiota, mulher, você tem cérebro de minhoca, você não faz nada direito.
Ela:
- Amor, onde estás, amor?
O gravador:
- Na cama você é um desastre, trepar com uma pedra de gelo é melhor do que trepar com você.
Ela:
- Volta pra mim, não posso viver sem você.
O gravador:
- Arrependo-me de ter saído à rua no maldito dia em que te encontrei. Se pudesse voltar atrás...
Ela:
- Fala mais, amor! Me xinga, me puteia, mas fala mais!
Inútil: o gravador está mudo. Qualquer gravador cala quando a fita termina.

um conto triste e belo do Moacyr Scliar, o escritor que eu queria ser...