segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

nefistófeles


Dedicado com todo meu amor às minhas memórias. Tão valiosas, tão preciosas... memórias raras, recheadas de magia e imaginação... criativas e engraçadas. Essas são as ultimas idéias do ano... 2008, não é? Inventamos o tempo, depois ficamos correndo atrás, dele... ou correndo dele... esticando, esmagando, torcendo, matando o tempo... Tem gente que passa uma vida nessa função, nesse último ano muita gente passou nessa função... E o grande exercício continua sendo a comunicação, saber se fazer entender, se adaptar e não se abalar muito com isso... exercício esse, que estamos nos aprimorando ano após ano, que em comorbidade com minha filosofia humanista de vida deve me fazer controlar minha esquizofrenia... essa não era a palavra, mas ela me chegou de maneira tão sincera e pura, que eu não podia coloca-la em outro lugar... essa foi a semente, foi aí que tudo começou... é tipo um fungo, encubado há anos, quase toda uma vida, qualitativamente falando... fui infectado... você tem que saber que se deve tomar cuidados com os seus desejos, pois eles podem se realizar... não basta desejar, tem que ir na porta do capeta e pedir pra entrar... estava doente coitado... não fiquem com pena, é apenas conseqüência de uma vida de excessos, e acredite não é uma ulcera, um pulmão perfurado, um olho vazado, uma hemorroida pra fora, um escoliose, uma conjuntivite, um pé torcido, um buraco onde há pouco tinha um ciso, seguido de febre e tremedeira... essas merdinhas, não derrubam esse capeta... é fato que não devia estar fumando... um baseadinho pode ser, mas cigarrinho? não sou nenhum moralista, mas se fosse meu filho eu não deixava... mas não falo dele, porque quem sou eu pra falar de alguém, ainda mais nessa época do ano... eu vou lá troco uma idéia, tomo umas, queimo vários e valeu-falou...O natal deixa muita gente triste, e não devia ser assim, as pessoas não deviam ficar tristes nunca... a questão da comunicação se refere ao fato de querer ser levado a sério... tão sério quanto uma carta de amor... sim, isso poderia ser uma carta de amor, quem sabe isso até seja uma carta de amor, ou um testamento, coisa séria... mas aí é que tá, ninguém leva a sério cartas de amor hoje em dia...eu não acredito... deixei de acreditar quando fiz uma leitura dramática da carta que uma gordinha escreveu pra mim, no meio da quadra do colégio e todo mundo riu... e ela chorou... eu pago por isso todos dias...mas ainda tou devendo!... o fato é que nosso tempo é contado... tente não julgar, até os vagabundos precisam de férias... é preciso lembrar de não esquecer, você precisa se agarrar em alguma coisa, alguma coisa saudável de preferência, pro corpo ou pra alma...sendo nosso tempo contado é ele que nos define, contado como nossa idéias, nossas memórias e nossos sonhos... Você aí, é muito maior do que eles querem que você acredite, é sempre bom lembrar disso, você vai crescer e vai alcançar novos horizontes, mas eu nunca vou esquecer daquela estrela cadente e do pedido que eu tenho que me esforçar muito pra que ele aconteça e se renove a cada dia... é muito bom se fazer entender... eu atendi o telefonema de uma pessoa que não me telefonava a dois anos, e tratei como se o tempo não tivesse passado, com o mesmo amor... é alzeimer o nome disso, diriam alguns companheiros, que podem dizer, porque compartilham da degeneração, precocemente, merecíamos mais... por isso são tão valiosas...muitas historias poderiam deveriam ser contadas... mas em nossa existência limitada, nosso maior parâmetro de definição é a linearidade, ou seja, a incapacidade de transcender o presente. Obrigado a todos vcs... vcs são lindos, olhando daqui de onde eu estou... que todos vocês tenham uma vida longa e próspera... vcs merecem...

sábado, 20 de dezembro de 2008

Relogio Biologico


A verdadeira história por trás da história, sim, porque isso nunca será uma mentira... eu ainda não acordara quando senti a sua presença... tive medo, mas não consegui me mexer... minha respiração acelerou, comecei a suar pra variar... ele se manteve ao lado da minha cama, me ignorando, saca do bolso a caixinha de remédios, tira duas pilulas coloridas, põe na boca e engole a seco... se aproxima... não consigo enxergar com clareza... chega bem perto do meu rosto, posso sentir o fedor tipico dos fumantes... e me diz, de forma serena e calma... "vai escrever uma história, porra. E tente ser um pouco mais criativo dessa vez..."... a visão foi clareando aos poucos, já podia me mexer, mas ele não estava mais ali... não é a melhor forma de ser acordado, mas fazia tempo que não via meu amigo, e no final das contas escrevi um texto, que é bem verdade poderia ser bem melhor... mas eu agradeço e entrego a encomenda...em partes...

Relogio Biologico

Ele acorda meio dia e vinte. Em ponto. Todo dia o maldito relogio biologico o desperta. Como se ele tivesse algum compromisso. Mais uma vez ele não tinha compromisso algum. O maldito relógio biologico só servia para lembrar que ele é um desocupado, um vagabundo. Acorda angustiado novamente. Esgotado. E um gosto péssimo em sua boca. Lá fora chove, e ele só pode imaginar que está chovendo desde cedo, talvez tenha chovido toda a madrugada. Olhando aquele dia cinza pela janela, pensa em todos miseráveis que, diariamente, tem que acordar cedo, e ir trabalhar, faça chuva ou faça sol... E não consegue lembrar da época que não sentia esse vazio dentro de si. Esse tempo feio, só que dentro da alma. E tem certeza que é mais miserável que todos eles, porque eles, ao menos tem um proposito. Ele não, ele é um parasita.
Resolve ir pro bar... (continua)


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Brasil com P - parte 1


hoje é aniversário do meu amigo Jaime Jegue do DigaHow, grande figura, considero muito, até porque nossa comunicação vai além dos meios convencionais... tudo de bom pra ele e pros seus... posto um texto do legendário GOG, porque gostamos muito...

Pesquisa Publicada Prova
Preferencialmente Preto, Pobre, Prostituta Pra Polícia Prender.
Pare, Pense, Por Quê? Prossigo...
Pelas Periferias Praticam Perversidades. Pms.
Pelos Palanques Políticos Prometem, Prometem, Pura Palhaçada.
Proveito Próprio. Praias, Programas, Piscinas, Palmas.
Pra Periferia... Pânico, Pólvora, Pá, Pá, Pá.
Primeira Página.
Preço Pago... Pescoço, Peito, Pulmões Perfurados.
Parece Pouco...
Pedro Paulo, Profissão Pedreiro. Preso Portando Pó, Passou Pelos Piores Pesadelos...
Presídios, Porões, Problemas Pessoais, Psicológicos, Predeu, Parceiros,
Passado, Presente, Pais, parentes, Principais Pertences.
Pc, Político Privilegiado Preso Parecia Piada, Pagou Propina Pro Plantão
Policial, Passou Pelo Portão Principal.
Posso Parecer Psicopata, Pivô Pra Perseguição. Prevejo Populares Portando
Pistolas, Pronunciando Palavrões, Promotores Públicos Pedindo Prisões.
Pecado, Pena, Prisão Perpétua, Palavras Pronunciadas Pelo Poeta, Irmão...

GOG

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vaidade


Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...

E não sou nada!...


Florbela Espanca

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O Brasil ganhou e eu tô aqui perdido...


Enquanto o Furmiga não me manda as belissimas poesias que me prometeu, posto aqui, uma história real que ele narrou no orkut, em plena copa do mundo de 2006... o tempo passa e continuamos perdidos...

Domingo estáva com o Héi, que não me deixará mentir sozinho, fumando um cigarrinho de menta! na funarte (MOTeU...), por volta das 20h, quando apareceu um caboco catador-de-latinhas completamente nervoso.

Ao longe ele berrou umas três vezes, até que se aproximasse o suficiente para entendermos: "Brasil granhou e eu to aqui perdido!"

Meu Deus, que pérola!, eu pensei.

Ele, com um sotaque típico do lugar de onde veio, gaguejava: "Eu vim, mas nao lembro onde cheguei... tinha umas árvores assim e umas caixas d'agua tipo essa [apontou para o planetario] e uma torre alta tambem [apontou pra torre de tv]... 2x0 ganhamo é gol [sic]... larguei de manhã cedo minha mulher e minhas crianças pra trabalhar e to perdido... oh meu deus do ceu me ajuda... nao sei mais qual era a caixa d'agua..."

O Helio como que inspirado por alguma divindade do cerrado apontou a direção da rodoferroviaria àquele bom brasileiro!

Seguiu na fé de que seria por ali mesmo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Oráculo

Oráculo
Não enterramos. Não enterramos nenhum morto. Não enterramos nenhum morto sem antes cavarmos sua garganta. Sem antes recolhermos suas cordas vocais. Sem antes as colocarmos para secar. Sem antes preenchermos a ferida exposta com a terra banhada em sangue. Para impedir que as palavras guardadas em seu peito encontrem saída. Mas tudo. Mas tudo o que não foi dito. Tudo o que não foi dito em vida. Tudo o que por um motivo ou outro se manteve trancado. Precisa ser expresso. Busca a luz do dia. Não pela garganta, não pela voz do morto. Pois o que não disse foi também o que o matou. Não pela garganta, não pela voz do morto. Pois se não o disse, também não irá querer dizê-lo agora. Mas tudo. Mas tudo o que não disse. Tudo o que não disse em vida. Precisa ser dito. Então, dependuramos suas cordas vocais. Sob o crepitar do sol. Por às vezes dois, às vezes três dias. Observamos as suas cordas vocais. Pingando sons, pingando letras. Pingando suspiros de agonia. Quanto tempo, depende do vento. Depende da chuva. Depende do sangue. Depende da força com que a terra o suga. Os filamentos vermelhos. Os filamentos tensos. Os filamentos espessos nos quais as palavras escorrem até o chão. Através dos quais fogem. Para o ventre da terra, em busca de abrigo. Em busca de proteção. Dos olhares inquisidores, dos olhares abrasivos. Os filamentos vermelhos. Nos quais as palavras se estendem. Confessam tudo o que não foi dito em vida. Em nódoas de vergonha. Em frases retorcidas. Letra por letra, sílaba por sílaba. Que se alongam, que se afinam. E se rompem. Assim uma palavra se exaure e começa a próxima. Dançando ao vento. Tremendo com o seu frio. Umedecendo-o enquanto passa. Os filamentos silenciam verdades na terra. Que lentamente as absorve. Que lentamente as absolve. Onde o sangue deitou muita dor, não nascem mais plantas. É o sangue que os insetos evitam. É o sangue do qual não surge mais vida. É a terra onde ninguém mais pisa. Uma vez purificadas as cordas vocais. Pelo sol e pela chuva. Pela terra e pelo vento. Então, as trançamos e as levamos à caverna. Para incorporá-las à teia. Em cujo núcleo descansam as cordas vocais dos nossos ancestrais. Que chegaram antes do tempo. Que chegaram antes dos costumes. E que teciam as vozes uns dos outros, tão logo morriam, para que dissem tudo o que não haviam dito. Tudo o que tinham escondido. E para que se comunicassem, pelas vibrações dos fios, com as futuras gerações. Assim secaram nossos antepassados suas vozes, assim começaram a fiar a teia. À qual suas filhas e seus filhos acrescentaram suas próprias vozes. O que continuamos a fazer, costurando nas suas margens. As cordas vocais de todos que morrem. Para que a teia não morra. Nós a alimentamos. Para que o tempo não pare. Nós a ampliamos. Para que o fim não se esqueça do começo. Para que o último não se desfaça do primeiro. Para que os costumes não se percam. Costuramos a teia. Que cresce. Para o futuro. E se expande. Para todos os lados. A teia é o nosso calendário. Onde transcorre o tempo. No seu centro encontramos carcaças de insetos que não existem mais. Há folhas secas de plantas que desapareceram. Esqueletos de animais dos quais nos falam as lendas. Mas a teia não apenas. A teia não apenas marca. A teia não apenas marca o passar do tempo. Ela também o move, ela também o engendra. Ela também o tece. Ela também o fia e desfia. Além de nosso calendário. Além de nosso contato com o passado. A teia é o que nos liga ao futuro, é também o nosso oráculo. Que nos informa o que vai e o que não vai acontecer. E nos diz o que devemos e o que não devemos fazer. Para que fale. Respiramos levemente em sua superfície. Com a boca entreaberta. A vibração corre por seus fios. Dividindo-se nas bifurcações. Reencontrando-se nas encruzilhadas. Perfazendo toda a sua extensão. Despertando ao passar pelo centro. O saber dos antigos. Que então se expressa no vocabulário das margens. De forma que possamos compreendê-lo. Entretanto, a teia apenas nos revela. A teia apenas nos revela o que já sabemos, a verdade que já pressentimos, que freme nas cordas vocais dos vivos. Ela não faz mais do que amplificar. Do que tornar audível para nós mesmos o que vem escrito em nosso hálito, o que lhe sussurramos. Quando a assopramos delicadamente. Quando a assopramos com amor. Ela canta. Mas quando imprimimos em seus fios um ar seco e áspero, carregado de ódio, medo e rancor. Ela solta um grito estridente. Por mais que tentemos disfarçar. Por mais que tentemos disfarçar nossos receios e nossas intenções. A teia sempre acaba por amplicá-los. Da teia, nada é possível esconder. À teia, nada é impossível saber. Que a teia nos mostre o caminho. Que a teia nos mostre o ser. Que a teia nos mostre o caminho. Que a teia nos mostre o ser. Que a teia nos proteja da aspereza. Que a teia nos entregue à justiça. Que a teia nos proteja da aspereza. Que a teia nos entregue à justiça. Que a teia nos revele o passado. Que a teia nos revele ao futuro. Que a teia nos revele ao passado. Que a teia nos revele o futuro. Que a teia nos revele uns aos outros. Que a teia nos revele a nós mesmos. Que a teia nos mostre o caminho do ser.

Murilo Seabra