quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O hóspede

Mais uma preciosidade do meu honorável amigo Renato Hideki Tateishi de Moraes...

A pequena odisséia de gabriel começa quando uma flor adoentada lhe pede socorro. Ele sabe o que deve fazer, mas tem consciência de que o caminho será difícil. A expressão das flores, como gabriel as pode perceber, é de preocupação e admiração por sua corajosa atitude,
não se preocupe, florzinha, eu vou te ajudar.
O cão, de orelhas caídas, é o conselheiro a quem nosso herói sempre recorre quando lhe aparecem aventuras como esta que narramos. Sempre lhe ocorre ser o cão um sábio. Mais que um sábio, um sábio exclusivo, visto que ninguém aqui, tirados da conta, é claro, gabriel e o próprio cão, conhece sua enigmática língua. O que o conselheiro acaba de dizer é que não vale a pena se arriscar desta vez, mas o aconselhado, acenando para as nuvens no céu, não o escuta.
Se, por um instante, nos preocuparmos com nosso guerreiro, não será senão por não sabermos que tudo isto aqui pertence a ele. Saibamos do fato, portanto. Também o sabem as fadas, que sempre seguem gabriel em rodopios, e por isso nunca temem por ele (mas quanto a si mesmas hão de estar sempre atentas, vez que são mensageiras e como tal nem sempre portam a verdade mais verdadeira, sem redundâncias, causando incômodos em alguns).
Face a face com o grande inimigo, num flashback ele finalmente escuta seu conselheiro,
não vale a pena se arriscar desta vez. Pari passu, as fadas já espalham a notícia que ninguém queria ouvir. Então as flores choram em silêncio, em especial aquela que está doente, esta não só pela perda daquele que é seu dono e protetor, mas também por culpa. Embora visivelmente triste, não podemos deixar de imaginar que o cão sente algum orgulho, como se, supondo-se ter sido sua qualidade de sábio posta à prova, gritasse em sua língua,
ganhei!
Há no mundo de gabriel um ser que todos desconhecem, que é um anjo com nome de mulher. Ninguém, nem mesmo nosso führer inofensivo, sabe que a manutenção de tudo isso aqui que são as coisas e as aventuras depende muito mais do querubim que de seu dono.
O besouro, grande inimigo, se vê encurralado no jogo de perguntas e respostas que, como já deveria saber, é especialidade de gabriel. O inseto se retira, tendo em si não só a humilhação óbvia mas também uma certa iluminação pelo bom coração do rei, que poderia muito bem tê-lo esmagado. Então o vencedor faz das mãos conchas e colhe da água do riozinho. Quando se vira para vislumbrar o caminho de volta tudo o que consegue ver são as fadas que, embora soubessem sempre que tudo acabaria exatamente assim, o cobrem de beijos e areias que cintilam. O principal papel dessas fadas cínicas nesse mundo é cuidar bem da imagem de seu dono.
Sua chegada é como um alento para todos aqueles que até então se achavam em desesperançosa situação. O sábio conselheiro vem aos pulos lamber a perna do imperador e late,
que milagre! Compenetrado, gabriel se põe sobre seus joelhos, à frente da flor adoentada e sobre ela, abrindo as mãos, deixa cair a água do rio. Ele sabe porque as flores sorriem.
Quando começa a escurecer, uma voz anuncia o jantar. Gabriel se retira para o palácio, não sem antes se despedir de todos, o cão, as fadas, as flores e até o besouro; se despede porque, quem sabe?, amanhã tudo aquilo pode não ser mais seu.
Enquanto nosso herói dorme, o anjo que mantém todo esse mundo vai embora para não voltar nunca mais. Seu rosto mal consegue esconder com um sorriso meio tímido a tristeza que lhe invade. Isso porque passou inúmeros bons momentos aqui. Ele diz,
gabriel, amanhã isso tudo não será mais seu, amanhã isso tudo não será mais eu. O anjo errante agora procura um novo mundo para se hospedar.

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