sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

o corpo


Outrora tinha força para me levantar, sentia dor, mas com esforço, algumas vezes, eu conseguia me levantar... mas a dor e o peso foram ficando cada vez maiores, insuportaveis.
Um dia sentei e chorei compulsivamente por horas, parei de chorar (não pelo alívio da dor, mas pelo cansaço), e supreendentemente nunca mais consegui levantar-me...
Todos anos de sofrimento, de alguma forma, pareciam ter me levado àquela situação, me tornara um "aleijado". A dor, companheira inseparavel de quase toda uma vida, sem indício prévio, simplesmente deixou de existir... (onde está a dor?) Nos primeiros dias que se seguiram , a fome incomodara um pouco e ao mesmo tempo garantia a sensação de existencia, que me confortava diante de tão estranha situação, um misto de impotencia e abandono.
Uma semana se passou, e eu desisti da fome...
Semanas, horas, dias, segundos... depois de meses algo curioso aconteceu, abri os olhos e era noite, as luzes de luminosos entravam pela janela e faziam meus olhos doerem, fechei-os novamente. Resolvi então usar o sentido do olfato, enchi os pulmões, que arderam... choque tão grande quanto a experiencia visual, a podridão das minhas fezes, cheiro de suor seco, dejetos que me circundavam e se acumulavam por meses naquele local me invadiram como de uma só vez... Vomitei. Vomitei algo, posto que não comia há tempos, deduzo que era um pedaço de mim mesmo, pedaço meu, que com muito esforço, ainda assim, não consegui identificar... Fiquei zonzo, o gosto do vômito evocou um turbilhão de sentimentos e sensações, quase chorei... Horas, semans, minutos... Alguns dias depois continuava em choque depois da impactante experiencia com meus sentidos.
O corpo definhou até deixar de existir, a alma saiu pela boca, flutuei, tropecei por falta de uso (ou será que eu nunca tinha usado minha alma antes?). Curiosamente a dor voltou (você estava aí... senti sua falta), diferente de qualquer dor que eu já tinha sentido, mas voltou... deixei aquele lugar pela fjanela, era noite, agora tudo estava tão claro, o tempo não existia mais, as luzes dos letreiros não me ofuscariam mais... eu era luz também...

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