domingo, 20 de janeiro de 2008

Fantasmas




Esse sonho foi especialmente estranho e pestubador... Ele acordou com o velho gosto de coisa morta em sua boca... Era a ressaca... há tempos não tomava vinho, e se lembrara agora do porquê... mas pior que o mal estar fisico foi a sensação de desamparo que sentiu, quando acordou achando que sua falecida mãe o acordara... por um momento ele achou que era ela chamando... por um momento ele achou que estava atrasado para o colégio... mas ela estava morta... e ele estava vivo... e naquela manhã sentindo nauseas, ele também sentiu vontade de chorar... por tudo que não foi dito, e por tudo que não pode mais ser dito... ele queria esquecer logo desse sonho, como a maioria dos sonhos que vagarosamente vão desaparecendo da memória enquanto escova-se os dentes e se faz um café...
Mas nesse momento ele percebeu que esse já não era um desses sonhos, e sentiu vontade de chorar de novo... ele queria ser forte... ele achou que estava sendo forte quando não chorou no velório, e achou que tinha sido forte quando segurou o choro e sentiu um aperto na garganta enquanto cobriam o caixão de terra... mas agora ele não se sentia nem um pouco forte... ele se sentia miserável... ele sentia os efeitos de uma noite de bebedeira e sentia as consequencias de uma vida de equívocos...
Foi pego de surpresa, não costumava sonhar com a mãe... em certa época da vida sonhava até com um pai que nunca conheceu... mas foi pego de surpresa... não foi um sonho de imagens, foi mais uma sensação, uma presença... desamparo...
E se lembrou que era assim que ele se sentiu por quase toda uma vida...







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