quarta-feira, 15 de abril de 2009

passeio no inferno


Em um instante ele não estava mais ali. Agora ele estava no inferno. E curiosamente alguma coisa era familiar. Ele sabia que estava no inferno, a última coisa que ele se lembra é de ter olhado pro relógio, mas não fazia idéia de que horas eram... e agora ele era incapaz de enxergar os ponteiros do relógio... Tarde pra quem chega e cedo pra quem vai embora, tudo uma questão de percepção... A hora certa pra alguém, e certamente os piores momentos de uma vida, da vida de outro alguém... Depende muito da fase da vida, e das coisas que passamos até chegar aqui... Enquanto envelhecemos somos capazes de sentir que o tempo passa cada vez mais rápido. Tudo uma questão de percepção. Tudo é uma questão. Ele estava no inferno, e alguma coisa era familiar. O inferno é exatamente igual a isto aqui, mas em outra vibração. Parece com algo que, tragicamente, vai acontecer, ou que deveria ter acontecido. Tudo está em seu devido lugar, mas parece devastado. Um ar quente que queima as narinas e os pulmões. Um cheiro forte incomodava-lhe quase que insuportavelmente. Um céu sem lua e sem estrelas... na verdade não é nem noite e nem dia. A única certeza é uma sensação dificil de descrever... talvez uma inevitabilidade, uma angústia sem fim... uma dor infinita, a angústia e a obcessão. Tudo está devastado a sua volta, e tudo também está devastado dentro de todos nós. E a visão disso tudo é desesperadora, e em meio ao desespero e a desesperança surge uma presença... uma presença familiar... sentido-se à vontade para perguntar, as palavras não são capazes de sair de sua boca... mas uma resposta vem de forma incompreencivelmente clara... Quem manda aqui é a senzala! Uma sensação de terror percorre seu corpo, uma sensação que ele nunca sentiu anteriormente, mas que lhe parecia estranhamente familiar... A eminente derrota do espirito...

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